Do que adianta ser livre e viver acorrentado ao passado?
Do que adianta ter pernas, se não pode andar, ter braços e poder voar?
Do que adianta ter sonhos e pagar por eles?
Do que adianta querer e não conseguir?
Do que adianta lhe dar asas e cortá-la novamente?
Do que adianta amar o próximo se me ensinam a odiá-lo?
Do que adianta ter leis, se não nos defendem?
Do que adianta aprender, se não posso ensinar?
Do que adianta ter cultura, se não poso preservá-la?
Do que adianta buscar, se não tem onde ir, ou não sei ir?
Do que adianta nadar e morrer na praia?
Do que adianta sorrir, se meu coração chora?
Do que adianta os sonhos, se não posso realizá-los?
Do que adianta me adianta querer ser alguém na vida, se a vida não deixa ser alguém?
Do que adianta ter tantas coisas no mundo, se não podemos tê-las também?
Do que adianta estudar, se não posso ter curso superior?
Do que adianta querer dar um futuro melhor para os meus filhos, se não posso dar?
É a vida de quem mora em um quilombo é assim:
Sonhar, sonhar, sonhar.
Querer, querer e querer.
Lutar, lutar e lutar.
Quem sabe um dia vencer.
(Maria Helena Kalunga)
TORTURA
Há 11 anos
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