segunda-feira, 8 de março de 2010

Segue entrevista do Fignole, o sindicalista haitino que esteve no Brasil ano passado

Caros



Segue entrevista do Fignole, o sindicalista haitiano que esteve no Brasil ano passado a convite da CUT, e com o qual fizemos a atividade no Congresso da Central.
 
Entrevista de Fignolé Saint-Cyr, secretário geral da CATH, Central Autônoma dos Trabalhadores do Haiti, dia 26.1.10.



Fignolé - Bom dia à todos, à Rádio Tanbou aos camaradas do LKP, guadalupenhos e guadalupenhas,


1ª. questão – Foi muito difícil entrar em contato com você, as coisas estão difíceis, qual é o seu estado, qual é a situação do Haiti hoje?
A situação é efetivamente muito difícil. O povo haitiano conta com a solidariedade, mas é um povo lutador que procura uma solução.
Eu, como responsável sindical que acompanha a situação, quero alertar a opinião pública internacional, o movimento operário e democrático internacional, sobre o que se passa no Haiti. É verdade que o país está vendo uma importante catástrofe, mas existem aqueles que se aproveitam disso para reforçar a ocupação. Por exemplo, os Estados Unidos instalando 20.000 homens armados.
O Haiti não precisa de armas, nem de porta-aviões, nem de carros blindados, hoje o Haiti precisa de enfermeiros, médicos, engenheiros, para nos ajudar a enfrentar a situação.

2 – Questão da ajuda - A ajuda chega, mas a população não tem acesso, mesmo em Porto Príncipe. Existe um problema de coordenação.
É os Estados Unidos quem coordena, quem comanda o aeroporto e o porto. Existe um conflito entre os EUA e a França. Por exemplo, na semana passada se desentenderam os embaixadores da França e dos EUA.
O que nós queremos, como nossos companheiros, é a verdadeira solidariedade. Já sabemos o que estão fazendo nossos companheiros do LKP, da Martinica, da ATPC... Nós contamos com eles e outros para fazer pressão contra a França, especialmente pelo reembolso da dívida imposta ao Haiti pela França, no momento da nossa independência, para a reconstrução do país; ainda mais porque eu ouvi na RFI (Radio França Internacional) que 47% da população francesa concorda que a França ajude o Haiti. Querem passar a imagem de que o Haiti é um país pobre, o Haiti não é pobre, mas foi empobrecido.

3 – Questão da Pilhagem - Existe uma lógica por trás do fato da não-organização da distribuição de ajuda, para incitar a população à pilhagem, para reprimir logo em seguida, como aconteceu em Nova Orleans, após o furacão Katrina em 2006.
Nós acabamos de receber a notícia de que a Comunidade Européia se prepara para enviar 350 policiais para “ajudar na distribuição” de ajuda. Nós chamamos todo o movimento operário e democrático para fazer pressão na comunidade internacional, contra os Estados Unidos, para que ele não se aproveite da catástrofe para acentuar a ocupação do Haiti. Nós reafirmamos que nós não precisamos de marines, nem de policiais. É uma maneira de traumatizar ainda mais o povo. O que nós precisamos são de enfermeiros, médicos, engenheiros.

4 – Solidariedade internacional -
Nós fazemos um chamado ao movimento sindical internacional, ao movimento operário independente (do mesmo modo que os Estados Unidos, França e Canadá estão reunidos no Canadá), para a organização de uma Conferência Internacional num país francófono, no Canadá, em Guadalupe ou na Martinica, para dizer, atenção: o que os países estrangeiros presentes no Haiti tentam nos impor não é o que nós precisamos, é a política dos países ocidentais, dos banqueiros, o que eles estão aplicando. Nós já vimos isso durante os ciclones de 2008: muita ajuda chegou, mas a maior parte da população nem sequer viu a cor. Desta vez, para impedir isso, é preciso juntar o Haiti à comunidade internacional.

5 – A construção do Haiti -
A construção do Haiti só pode ser feita com o movimento sindical de classe independente, para que cada um desenvolva seu papel de maneira democrática, e com a junção entre o movimento operário e democrático haitiano e o movimento internacional de classe independente e democrático, certamente com nossos camaradas do LKP, de algumas confederações dos Estados Unidos, do Brasil, da França... O que está na ordem-do-dia não é uma questão de solidariedade humanitária, é a questão da soberania do Haiti, do respeito do direito do povo haitiano, é o combate contra a ocupação do Haiti. Porque hoje nosso país está enfraquecido politicamente, economicamente, e é a ocasião de fazer os EUA e a França pagarem o preço das ocupações e da colonização do nosso país.

6 – Comitê de acompanhamento -
É o combate que nós travamos com organizações haitianas, organizações sindicais, políticas, populares, de mulheres… Combate reforçado pela Comissão Internacional de Inquérito sobre o Haiti, que aconteceu em Porto Príncipe, nos dias 16 a dia 20 de setembro de 2009. Para continuar este combate nós contamos com nossos companheiros, com nossos amigos, nossos camaradas do LKP, da ATPC, do Acordo Internacional dos Trabalhadores e dos Povos.

7 – Situação -
Eu estou na rua, como centenas de milhares de haitianos. Como eles eu perdi tudo, inclusive minha casa. Ninguém sabe ao certo quantos mortos, 300 000? Nos viramos com aquilo que sobrou e contamos com a solidariedade entre nós.
Existem muitas amputações, e uma situação sanitária muito precária.

Repito mais uma vez, nós precisamos de médicos e enfermeiros.

Documentário que estréia nesta quarta (3) revela bastidores das cotas raciais na UnB

Documentário da TV Câmara que estreia nesta quarta (3) revela bastidores das cotas raciais na UnB



03/03/2010 - 15:26


O país do orgulho da miscigenação, apregoado por Gilberto Freire e Darcy Ribeiro, se deparou há alguns anos com uma questão espinhosa: a adoção de cotas raciais nas universidades. Se falar de racismo no Brasil já era tabu, falar de cotas, então, se transformou num daqueles temas sobre os quais é melhor nem iniciar conversa. A menos que estejamos em um grupo onde todos são favoráveis ou todos contrários. Aí, sim, dá para desabafar os inconformismos, de um lado e de outro.

É neste clima de “assunto proibido”, discutido só entre os pares, que os entrevistados do documentário Raça Humana, produzido pela TV Câmara, começam a desfiar o intrincado novelo das cotas. Durante três meses, a equipe que trabalhou no documentário acompanhou a rotina de uma das maiores universidades do país – a Universidade de Brasília - que de forma tão ousada quanto isolada adotou o sistema de reserva de vagas com recorte puramente racial. No documentário, alunos cotistas e não-cotistas, professores, movimentos organizados, partidos políticos e representantes da instituição falam abertamente sobre o “tabu” das cotas raciais, seja defendendo ou condenando o sistema. Ao mesmo tempo, o documentário mostra ações externas à Universidade que permeiam ou influenciam a discussão, como a votação do Estatuto da Igualdade Racial, em tramitação no Congresso - também cercada de muita polêmica, protestos e impasses.

No documentário, questões seculares e mal resolvidas da história do Brasil vão ressurgindo, tendo como pano de fundo a discussão das cotas raciais. Ao refletir sobre a reserva de vagas para negros no ensino superior, os entrevistados revelam que a discussão vai muito além: envolve o papel das universidades brasileiras; as falhas do sistema educacional; a questão da meritocracia nos vestibulares; o racismo e, principalmente, o papel do negro na estrutura sócio-educativa do país.

É nesse caldeirão de questões que o documentário Raça Humana mergulha e mostra que, para além das reações muitas vezes apaixonadas, raivosas ou até intolerantes, está em pauta no Brasil uma discussão histórica, que não pode ser desprezada. A situação vivida hoje pela UnB é, ao mesmo tempo, peculiar e universal – uma amostra do Brasil contemporâneo, ainda cheio de preconceitos, mas também capaz de refletir sobre a sua história e reconstruí-la a partir de novos parâmetros.

Atualmente, o sistema de cotas da UnB está sendo contestado no Supremo Tribunal Federal pelo partido Democratas e deve ter seu futuro definido ainda este ano. Nos próximos dias 3, 4 e 5 de março, o STF realiza audiências públicas para debater o tema. As audiências são uma forma de auxiliar os ministros nas decisões de temas de grande relevância e complexidade. Embora a ação de Descumprimento de Preceito Fundamental seja direcionada apenas à UnB, a decisão a ser tomada pela Corte vai valer para todas as universidades que adotem algum tipo de cota racial em seus vestibulares.

Lançamento - O documentário Raça Humana será lançado nesta quarta-feira, 3 de março, às 23 horas, na TV Câmara (canal 27 UHF em Brasília; 61 digital em SP; ou nos canais a cabo ou parabólica em todo o país). Reapresentações: 4/3 - 19h , 6/3 - 00h30 e 21h , 7/3 - 13h30 e 20h30, 08/03 - 22h .

Fonte: Divulgação TV Câmara
Acesse:- www.presidencia.gov.br
seppir.imprensa@planalto.gov.br

Dia Internacional das Mulheres

Do:
Centro Cultural Africano


São Paulo, 08 de Março 2010.


PARABÉNS!!!


O Dia Internacional da Mulher, celebrado em a 8 de março tem origem nas manifestações femininas por melhores condições de trabalho e direito a voto, no início do século XX, na Europa e nos Estados Unidos. A data foi adotada pelas Nações Unidas, em 1975, para lembrar tanto as conquistas sociais, políticas e econômicas das mulheres como as discriminações e as violências a que muitas mulheres ainda estão sujeita sem todo o mundo.

A idéia da existência de um dia internacional da mulher foi proposta na virada do século XX, no contexto da Segunda Revolução Industrial, quando ocorre a incorporação da mão-de-obra feminina em massa, na indústria. As condições de trabalho, freqüentemente insalubres e perigosas, eram motivo de freqüentes protestos por parte dos trabalhadores. As operárias em fábricas de vestuário e indústria têxtil foram protagonistas de um desses protestos contra as más condições de trabalho e os baixos salários, em 8 de Março de 1857, em Nova Iorque.

Todo dia é dia da mulher que é mãe, guerreira, sonhadora, educadora, companheira,esposa.

Enfim, o mundo sem as mulheres seria triste e sombrio.

Desejo a todas muitas felicidades hoje e em todos os dias das suas vidas.

Otunba Adekunle Aderonmu
Diretor Presidente
Centro Cultural Africano


www.centroculturalafricano.org

A teoria negreira do DEM saiu do armário

A TEORIA NEGREIRA DO DEM SAIU DO ARMÁRIO


Elio Gaspari. Folha de S. Paulo, 07 de março de 2010, pg.A-10.



O senador Demóstenes Torres (DEM-GO) é uma espécie de líder parlamentar da oposição às cotas para estimular a entrada de negros nas universidades públicas. O principal argumento contra essa iniciativa contesta sua legalidade, e o caso está no Supremo Tribunal Federal, onde realizaram-se audiências públicas destinadas a enriquecer o debate.



Na quarta-feira o senador Demóstenes foi ao STF, argumentou contra as cotas e disse o seguinte:



"[Fala-se que] as negras foram estupradas no Brasil. [Fala-se que] a miscigenação deu-se no Brasil pelo estupro. Gilberto Freyre, que hoje é renegado, mostra que isso se deu de forma muito mais consensual".



O senador precisa definir o que vem a ser "forma muito mais consensual" numa relação sexual entre um homem e uma mulher que, pela lei, podia ser açoitada, vendida e até mesmo separada dos filhos.



Gilberto Freyre escreveu o seguinte:



"Não há escravidão sem depravação sexual. É da essência mesma do regime".

"O que a negra da senzala fez foi facilitar a depravação com a sua docilidade de escrava: abrindo as pernas ao primeiro desejo do sinhô-moço. Desejo, não: ordem."



"Não eram as negras que iam esfregar-se pelas pernas dos adolescentes louros: estes é que no sul dos Estados Unidos, como nos engenhos de cana do Brasil, os filhos dos senhores, criavam-se desde pequenos para garanhões. (...) Imagine-se um país com os meninos armados de faca de ponta! Pois foi assim o Brasil do tempo da escravidão."



Demóstenes Torres disse mais:



"Todos nós sabemos que a África subsaariana forneceu escravos para o mundo antigo, para o mundo islâmico, para a Europa e para a América. Lamentavelmente. Não deveriam ter chegado aqui na condição de escravos. Mas chegaram. (...) Até o princípio do século 20, o escravo era o principal item de exportação da economia africana".



Nós, quem, cara-pálida? Ao longo de três séculos, algo entre 9 milhões e 12 milhões de africanos foram tirados de suas terras e trazidos para a América. O tráfico negreiro foi um empreendimento das metrópoles europeias e de suas colônias americanas. Se a instituição fosse africana, os filhos brasileiros dos escravos seriam trabalhadores livres.



No início do século 20 os escravos não eram o principal "item de exportação da economia africana". Àquela altura o tráfico tornara-se economicamente irrelevante. Ademais, não existia "economia africana", pois o continente fora partilhado pelas potências europeias. Demóstenes Torres estudou história com o professor de contabilidade de seu ex-correligionário José Roberto Arruda.



O senador exibiu um pedaço do nível intelectual mobilizado no combate às cotas.